Não, Secretário João Galamba. Aljustrel não é um “bom exemplo” ambiental.

No programa Prós e Contras do dia 11 de Novembro de 2019, o Secretário de Estado Adjunto João Galamba referiu Aljustrel enquanto um "exemplo" no que concerne a “minas modernas”, referindo-se a um suposto bom desempenho ambiental que "vale a pena ver". Estas afirmações vão contra posições de diversas instituições, individualidades, investigações jornalísticas e movimentos ambientalistas. Vão também contra um largo consenso entre a população da vila mineira alentejana: a população quer a mina aberta, mas quer também que sejam tomadas medidas que salvaguardem o ambiente e a saúde.

Secretário de Estado Adjunto da Energia João Galamba no programa Prós e Contras

Que provas é que João Galamba apresentou para descrever Aljustrel como um exemplo que "vale a pena ver"?

Nenhumas! Falando sobre o complexo e delicado tema de equilíbrio entre exploração de recursos e sustentabilidade ambiental, o Secretário de Estado não apresentou quaisqueres provas, dados ou estudos do âmbito ambiental para comprovar as suas afirmações. Não apresentou qualquer tipo de comprovação técnica ou científica. Referiu, sem qualquer raciocínio lógico coerente, que a abertura das minas em Aljustrel fez crescer a "caça" e a "pecuária", o que despertou gargalhadas e chacota do público presente. Infelizmente, são discursos como este de João Galamba que esvaziam totalmente o discurso político de conteúdo e de ideias, preenchendo-o com meros slogans e frases polémicas.

O Movimento Aljustrel Pelo Ambiente repudia qualquer tratamento leviano dos problemas ambientais e de saúde de Aljustrel. Estes temas são delicados, complexos e deveriam merecer um maior cuidado e atenção de quem representa os portugueses. João Galamba, nitidamente, não está à altura do cargo que enverga. Rejeitamos também que Aljustrel seja apresentado enquanto bom exemplo ambiental enquanto os problemas ambientais que se arrastam não forem devidamente estudados e resolvidos.

Afinal, que problemas ambientais enfrenta Aljustrel?

A lista de problemas ambientais em Aljustrel é longa e impossível de tratar em apenas um artigo. Iremos abordar brevemente dois dos mais discutidos e documentados: o problema do pó preto e do insustentável número de camiões a passar no centro da vila.

O exemplo paradigmático da ausência de equilíbrio entre exploração de recursos e sustentabilidade ambiental em Aljustrel é o exemplo do pó preto que cai há quase uma década em cima da população. Por incrível que isto possa parecer, ao fim de quase 10 anos de pó preto, nenhuma das instituições públicas realizou e/ou apresentou um estudo independente à sua composição química, que seria necessária para analisar a perigosidade. Ou seja, a população não sabe o que respira há quase uma década. Diversas publicações já escreveram sobre o tema ao longo desta década, entre elas a Visão, a TVI, o Diário do Alentejo, a Rádio Pax, a Green Savers e o Jornal Mapa.

Zona afetada nas imediações da vila de Aljustrel.
A Associação Regional de Saúde do Alentejo, num relatório publicado em Maio de 2019, refere a necessidade de aplicação de medidas que conduzam a uma "minimização do impacto ambiental e na população" devido ao risco de "situações de perigo para a saúde da população". Refere ser igualmente necessário "o adequado acompanhamento da monitorização do funcionamento da indústria mineira". O presidente desta instituição estatal falou sobre o tema do pó petro numa entrevista ao Diário do Alentejo em 2018:relativamente à problemática do “pó preto”, “em articulação com as entidades competentes pela qualidade do ar e pelo licenciamento e fiscalização da actividade mineira, considerámos ser necessário apurar a sua composição e estabelecer medidas para mitigar os seus efeitos”.

Recentemente, o Público realizou uma reportagem sobre o problema dos camiões pesados em constante circulação na vila sob o titulo "Mina de Aljustrel transporta produção por estrada e provoca acidentes". Todos os dias passam no centro da vila largas dezenas de camiões, que poderão transportar material carregado de metais pesados. Este problema tem que ser solucionado o mais rapidamente possível com algum tipo de rota alternativa.

Estes problemas têm preocupado a população, que exige medidas imediatas

Em Setembro de 2018, foi convocado uma Assembleia Municipal Extraordinária para tratar a qualidade do ar em Aljustrel. Compareceram mais de 300 aljustrelenses preocupados (numa população de apenas 5 mil pessoas). As conclusões que se retiraram dessa assembleia foram unânimes quer na votação das propostas apresentadas, quer entre os presentes: a população quer a mina aberta, mas quer também que sejam tomadas medidas sérias que salvaguardem o ambiente e a saúde. Pode ler aqui uma  reportagem do Diário do Alentejo sobre esta Assembleia.

Mais de 300 pessoas compareceram à Assembleia Municipal Extraordinária sobre a Qualidade do Ar. A fotografia foi captada pelos Bombeiros Voluntários de Aljustrel e publicada no Diário do Alentejo.

Em suma...

As palavras de João Galamba chocam de cara com a realidade. Um tema desta complexidade não se coaduna com declarações levianas na praça pública. Em vez de espalhar desinformação sobre temas complexos, pede-se aos responsáveis políticos que falem com conhecimento de causa e sustentação científica e técnica. Aproveitamos estas infelizes declarações do Secretário de Estado para reafirmar a necessidade de mais fiscalização e de mais medidas concretas para mitigar os efeitos da indústria na vila mineira.

Comentários

  1. Quero agradecer ao autor do texto o facto de reagir e repôr a verdade, quanto às declarações do Secretário de Estado. Realmente, à distância não podemos aferir o que se passa em Aljustrel, pois estamos no Alto Minho numa luta contra um negócio que nos pode destruir. Afinal, o membro do Governo proferiu mentiras e apontou uma realidade inexistente num programa da televisão pública. Isso é grave, muito grave. Cada vez é mais evidente que somos enganados, cada vez temos menos confiança no governo eleito e nas instituições. Obrigada! Foi muito importante ter este testemunho e saber notícias de Aljustrel. Nunca deixem de lutar pela vossa terra e pelo País que é de todos.
    Um abraço fraterno,
    Gui Abreu de Lima

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  2. Obrigada por tão rapidamente reporem a verdade. A Almina quer abrir uma mina a céu aberto a 500m da aldeia onde vivo, sob o slogan do lítio. A licença de exploração tem sido atrasada, por manifestação da população. Mas o Galamba e o Governo querem que seja inevitável. Quaisquer informações que possam julgar úteis, por favor enviem-me. Grata, de coração.

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  3. Bom dia meu caro empregado João Galamba. Cá o espero em Aljustrel um dia, para lhe apresentar a realidade tal como ela é. O senhor, precisa rapidamente de uma dose de realidade, para evitar ir á TV e falar tontices. Venha a Aljustrel ver pelos seus próprios olhos. Respire com o seu nariz, o pó presente no dia a dia, contaminado com arsénio, chumbo, cobre, zinco, entre outros componentes. Olhe para os dados e veja actualmente os problemas de saúde com que se encontram as nossas futuras gerações. O senhor precisa disso. Por isso, convido-o pessoalmente a vir cá. Estarei disponível quando lhe for oportuno. Quando poderá ser? Um grande abraço cheio de empatia e votos de uma ótima continuação

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  4. Com tanto dinheiro em jogo, é dificil de acreditar que o desejo da população da região do Barroso irá prevalecer. Não a mina!

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